terça-feira, 31 de maio de 2011

Abordagem policial a pessoas surdas: como agir?

Em: Polícia Civil, Polícia Militar, TutoriaisAutor: Danillo Ferreira

Nos diversos modelos de gradiente de uso progressivo da força, um dos primeiros elementos de força a ser utilizado pelo policial é a verbalização. Dar ordens claras e incisivas pode prevenir o uso da força física corporal, evitando a agravação da ocorrência. Quando o suspeito é uma pessoa surda, porém, como deve agir o policial, sem o recurso da verbalização, disponível na maioria das situações?
Deste modo, ao mesmo tempo que é preciso se inteirar dos procedimentos para melhor entender e ser entendido por pessoas surdas em abordagens, também é fundamental que as posturas adequadas de segurança não sejam relaxadas em virtude da condição do abordado. Dito isto, vejamos algumas posturas que podem ajudar em ocorrências envolvendo pessoas surdas:

Qual é a forma mais adequada para se comunicar com a pessoa surda?

Fale Devagar! Não é preciso gritar. Para o surdo, a visão é o sentido primordial da comunicação e, portanto, é bastante desenvolvido. Enquanto estiver conversando, mantenha sempre contato visual. O ideal é dispormos de um profissional que conheça a leitura de sinais. Como geralmente não é possível, o surdo se comunicará por meio de mímica e gestos, exigindo assim um alto nível de atenção, pois os movimentos bruscos podem ser mal interpretados pelos policiais.
Ao se comunicar com uma pessoa surda, o ouvinte deve posicionar-se de forma que sua boca e expressões faciais sejam visíveis. Alguns aspectos dificultam a leitura labial, como pouca movimentação dos lábios.

Todo surdo é mudo?

Isto é um mito. A maioria das pessoas surdas não são mudas. Com o auxílio de fonoaudiólogo, muitas vezes elas conseguem desenvolver a linguagem oral. Ao interagir com uma pessoa surda, evite usar denominações pejorativas como, por exemplo, “mudinhos”. Palavras desse gênero são ofensivas e carregadas de preconceito.

A surdez é uma forma de deficiência mental?

É comum haver associação entre a deficiência auditiva e a deficiência mental, por causa da grande movimentação corporal que as pessoas surdas desenvolvem para se comunicar. Muitas vezes essas pessoas balançam as mãos, usam gestos fortes e mexem o corpo. Mas essas ações são necessárias para se comunicar, e não comprometem, em hipótese alguma, sua capacidade intelectual. Durante uma abordagem policial, estar atento à gesticulação é não só importante para a comunicação, mas também para a segurança dos policiais e demais pessoas presentes na ocorrência.

Como funciona a linguagem de sinais?

Aprender LIBRAS, a linguagem de sinais adotada pelas pessoas surdas no Brasilauxilia muito na comunicação. A linguagem de sinais tem estrutura e gramática próprias, o que a diferencia da língua portuguesa falada e escrita. Infelizmente, as polícias ainda estão longe de oferecer formação específica para este aprendizado, mas os policiais curiosos podem aprender muito buscando até mesmo material gratuito na internet.
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Estas dicas foram adaptadas duma cartilha distribuída pela FEBRABAM, mas podem ser muito úteis aos policiais que se deparam com pessoas surdas em atitude suspeita, fazendo-se necessária a realização de abordagem e busca pessoal. Não só isso: surdos podem ser testemunhas e muitas vezes são vítimas de crimes. Se o policial não estiver apto a se comunicar minimamente com estas pessoas, estará falhando em sua missão de atuar em benefício de todos os cidadãos, deixando de elucidar crimes ou prender criminosos. Sem falar no papel de colaborador em situações de vulnerabilidade em que não se configuram delitos.
Este deve ser um tema indispensável nas aulas de abordagem e busca pessoal entre os policiais militares e guardas municipais, e de atendimento ao cidadão entre os policiais civis. Quando veremos isto nas polícias do Brasil (salvo alguma louvável exceção), não se sabe.


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