A noite parecia calma, como sempre.
Estava conversando com meu parceiro sobre alguma coisa, que agora não consigo me lembrar.
Viramos a esquina.
E foi ai que escutei uma pancada seca contra a lataria da viatura.
Pensei “só me faltava essa”. Mas, depois do segundo “pipoco” não tive duvida. Estavam atirando na gente.
Na hora não da pra pensar em muita coisa.
Lembro-me somente de ver o pára-brisa estourando, e em seguida meu parceiro reclamando de dores no ombro esquerdo.
No entanto, não dava pra saber se era alguma coisa relacionada com o vidro que havia estourado com segundo tiro, ou se ele tinha sido atingido.
Saquei minha pistola e atirei na direção da onde vinham os tiros...
Disparei seis vezes. Depois escutei um grito.
Perguntei como estava meu parceiro, e ele me disse que estava bem. Então pedi para que solicitasse o apoio de outras viaturas.
Aproximei-me com calma. A arma apontada na direção da onde tinha vindo os disparos. O coração a mil.
De repente, vi uma coisa que sei nunca vou esquecer.
Um garoto de mais ou menos 17 anos estava caído na minha frente. Esvaindo-se em sangue, e dando seus últimos suspiros antes de morrer.
E foi então que entrei em desespero.
Não pelo que tinha feito. Pois estava amparado, agira em legítima defesa.
Mas por ver alguém tão jovem, alguém que havia conhecido, alguém que acreditei que teria um futuro pela frente. Que acabou escolhendo a vida do crime, porque achava que seria alguém, mesmo que fosse para ser um criminoso.
E agora estava ali, um corpo caído no meio da rua, sem vida, mais uma vida ceifada tão cedo e de uma forma tão estúpida.
Depois disso, passaram-se muitas outras noites.
E sempre que passo por aquela rua, lembro-me do dia que fui obrigado a tirar a vida de outro ser humano.
Não somente pelo jovem que morreu naquela noite, mas porque naquela noite uma parte de mim morreu com ele.
Osvaldo Zuim Junior
Guarda Municipal de Jundiaí
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